quinta-feira, 3 de maio de 2012

Por uma liturgia bela!



O valor da beleza como componente intrínseco da liturgia da Igreja parece estar esquecido por muitos. O que vemos, não raramente, são discursos sem fundamento que acusam a busca pela beleza como mera superficialidade e esteticismo, ou ainda, como uma manifestação contrária à pobreza ensinada e vivida por Cristo. Os que defendem esse ponto de vista tendem a uma “simplorização” do sagrado, recusando o “belo” apoiados nos argumentos já citados.
Na verdade, a Santa Igreja sempre defendeu a beleza litúrgica como sendo legítima. O próprio papa Bento XVI em seu encontro com os artistas, em 2009, afirmou que “a autêntica beleza abre o coração humano ao desejo de ir para o Alto, para o Além de si”. Dessa forma, não podemos aceitar o argumento de que a busca pela beleza seja simples superficialidade, que em nada colabora para uma verdadeira participação no Mistério celebrado. A beleza tem a capacidade de expressar, ainda que de maneira imperfeita, aquilo que transcende a nossa humanidade, elevando-nos assim à esfera do sagrado. "O caminho da beleza nos conduz, portanto, a colher o Tudo no fragmento, o Infinito no finito, Deus na história da humanidade”, afirmou o Santo Padre na mesma ocasião.
Acusar a busca pela beleza como esteticismo também se constitui um erro, pois o esteticismo tem a apreciação da estética como seu fim último, o que não é o caso da beleza litúrgica. Esta, não possui a beleza como um fim em si mesma, mas sim como um autêntico caminho para outro fim: o próprio Deus. Diz o escritor católico alemão Dietrich von Hildebrand: “Se alguém se recusasse a ir à missa porque a igreja é feia e a música medíocre, seria culpado de esteticismo, pois estaria substituindo o ponto de vista estético ao ponto de vista religioso. Antítese do esteticismo é apreciar a elevada função da beleza na religião, é compreender o legítimo papel que lhe cabe desempenhar no culto e o desejo das pessoas religiosas em revestir de grande beleza tudo o que se refere ao culto divino. Esta apreciação justa da beleza é até um crescimento orgânico da reverência, do amor a Cristo, do ato mesmo de adoração”.
Do mesmo modo, podemos facilmente perceber que a busca pela beleza na liturgia e nos templos não se opõe à pobreza evangélica. O próprio São Francisco de Assis, que praticou a pobreza com toda austeridade, sempre estimou e incentivou a beleza das igrejas, dos paramentos e objetos litúrgicos. Estaria, então, agindo de maneira contraditória? Certamente que não. A pobreza evangélica não descarta o zelo litúrgico. A pobreza evangélica descarta o consumismo e a idolatria aos bens.
Enfim, o Santo Padre Bento XVI, assim como seu predecessor, o Beato João Paulo II, tem insistido em reafirmar a válida colaboração da beleza litúrgica para uma melhor participação do povo de Deus no Mistério celebrado. Sendo assim, como a mulher de Betânia que derramou perfume aos pés de Jesus, não temamos empenhar nossos esforços na promoção de uma liturgia bela e agradável a Nosso Senhor.

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